Foto: Rian Lacerda (Diário)
Pela segunda vez em pouco mais de uma semana, uma unidade de saúde de Santa Maria fechou as portas temporariamente em protesto a ameaças a profissionais da área da saúde. Desta vez, foi a Estratégia de Saúde da Família (ESF) Roberto Binato, na Vila Caramelo, Bairro Juscelino Kubitschek, que não abriu nesta quinta-feira (11), após uma recepcionista ter sido, segundo seu relato, agredida verbalmente e ameaçada por um paciente na quarta-feira (10). Situação parecida ocorreu na ESF da Vila Alto da Boa Vista, na semana passada, no Bairro Nova Santa Marta, que paralisou os atendimentos após um médico e outros funcionários também terem sido agredidos verbalmente, conforme relatos dos profissionais.
O secretário da Saúde de Santa Maria, Guilherme Ribas, esteve na unidade na manhã desta quinta-feira para conversar com a equipe e a comunidade. Ele confirmou o fechamento e classificou a situação como preocupante. Os atendimentos devem voltar nesta sexta-feira (12).
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O conflito
O conflito teria começado durante a manhã de quarta, um dia de grande movimento na unidade devido à coleta de exames laboratoriais. Segundo a recepcionista da ESF, Martha Elisa Schmitt, 30 anos, a grande demanda e a espera por atendimento teriam deixado alguns pacientes com os ânimos exaltados.
Ela relata que um senhor, insatisfeito com a demora, passou a ofendê-la. Pouco depois, outro paciente, que aguardava o registro de sua chegada para uma consulta agendada, teria se irritado com a espera e começado a gritar.
– Ele só gritava: "incompetente, não sabe fazer teu serviço. Aqui, a gente tem que estar esperando". Começou a chamar de burra, várias situações – conta Martha.
A recepcionista afirma ter sido ameaçada ao final da discussão.
– Eu disse: "O senhor está sendo desrespeitoso comigo". E ele olhou para mim e falou: "Atende os outros que, depois, nós vamos se entender, eu e tu". O que parece isso? É uma ameaça – desabafa a servidora, que registrou um boletim de ocorrência.
Um problema recorrente
De acordo com outra funcionária da unidade, que preferiu não se identificar, as agressões verbais e ameaças são recorrentes. A ESF Roberto Binato, que tem uma área de abrangência com uma população estimada em 8 mil pessoas e duas equipes de atendimento, conta com uma única recepcionista, segundo os próprios servidores.
– A população fica revoltada porque tem que esperar. Eles não têm paciência, querem tudo para ontem. O povo chega invadindo, tivemos que colocar uma porta porque estava demais. Entravam porta adentro dos consultórios, é uma falta de respeito – relata.
Para a recepcionista Martha, a demanda da população cresceu, mas a estrutura da equipe permaneceu a mesma.
– A população duplicou. Antes, eles esperavam ouvir um "não". Agora, já entram prontos para brigar, e acabam descontando na recepção, que, na verdade, é só um meio de comunicação – conclui a recepcionista.
O que diz o secretário da Saúde
Ao Diário, o secretário Guilherme Ribas confirmou que o fechamento foi motivado pela agressão e demonstrou preocupação com o caso, uma vez que "este é o segundo caso semelhante registrado em nossas unidades em pouco mais de uma semana".
– Estive no local para conversar com os trabalhadores e com a comunidade. Meu objetivo é buscar o equilíbrio nas relações, porque não podemos aceitar situações de desrespeito. Nossa equipe está pronta para servir, mas precisa ter condições adequadas para trabalhar e o respeito da população – afirmou Ribas.
A reportagem busca posicionamento do Sindicato Médico de Santa Maria (Sindomed) e do líder do Bairro Caramelo sobre o ocorrido, no entanto, até a última atualização desta reportagem, não obteve retorno.